Circuitos cruzados : o centro Pompidou encontra o MAM

Circuitos cruzados : o centro Pompidou encontra o MAM

Data
23 de janeiro a 31 de março de 2013

Curadoria
Paula Alzugaray

Artistas
Anna Bella Geiger, Marcius Galan, Cinthia Marcelle, Dias & Riedweg, Cildo Meireles, Lenora de Barros, Sandra Cinto, entre outros

Local
Museu de Arte Moderna | São Paulo

Palavra-chave: compartilhamento

Este projeto nasce do diálogo. Entre curadoras, entre acervos, entre mídias. Partimos de seis instalações da coleção de novas mídias do Centre Pompidou, que colocamos em comunicação com 35 obras da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo realizadas em fotografia, serigrafia, off set, heliografia, vídeo, performance, instalação, escultura e outros formatos, híbridos. Diante desse espectro de linguagens e idiomas, elegemos a palavra-chave como um sistema de conexões.

Na cultura dos bancos de dados, a palavra-chave é o elemento que abre as portas de uma pesquisa . Em uma busca na internet, a palavra-chave funciona como um robô (spider) que percorre os links, identificando páginas de conteúdos relacionados. As páginas são então indexadas e disponibilizadas para consulta.

O processo de seleção da exposição Circuitos Cruzados foi similar a esse sistema de busca. As seis obras do Centre Pompidou e a obra comissionada ao artista Tony Oursler geraram uma série de nuvens de palavras chaves que, depois, foram lançadas como spiders sobre o acervo do MAM. Em posse dessas palavras, varremos a coleção, identificando conexões e cruzamentos.

A partir de The American Gift, de Vito Acconci, localizamos a primeira palavra-chave, que funcionou como um elemento conceituador de todo o projeto: a tradução. Nessa audio-instalação, realizada a convite de uma instituição francesa, em 1976, artista norte-americano orquestra um diálogo idiomático entre França e EUA. Como no jogo “siga o mestre”, um coro de vozes francesas é convidado a repetir as palavras inglesas proferidas pelo artista. O resultado, porem, é um disputado jogo de forças.

The American Gift gerou como palavras-chaves: tradução, diálogos culturais, pós colonialismo, imigração, política internacional, mapas geopolíticos, confrontos, invasões, territórios. Acreditando na pluralidade de toda obra de arte, não usamos essas chaves para “focar”, mas para abrir/ampliar o espectro de reflexão.

Na coleção do MAM, essas tags nos levaram aos mapas políticos realizados por Anna Bella Geiger (1996) e Marcius Galan (2010), ao vídeo Unus Mundus Confronto (2005), de Cinthia Marcelle, ação urbana que promove a medição de forças entre carros e pedestres; a videoinstalação Do Universo do Baile (2008), de Dias & Riedweg, que relativiza os significados de cidadania e identidade nacional; a série Zero (Dollar, Cruzeiro, Cent e Centavo), realizada por Cildo Meireles, em 1978, e que especula sobre o valor simbólico e real da política monetária; Não Quero Nem Ver (2005), de Lenora de Barros, quatro videopoemas que constroem discursos dissimulados sobre a repressão do corpo, e a serigrafia Sem Título – Da Série A Travessia Difícil Après Géricault (2010), de Sandra Cinto, que evoca a pintura do francês Theodore Géricault para estacelecer um paralelo com os naufrágios morais e políticos da sociedade contemporânea.

A diversidade de linguagens e suas relações com a linguagem do vídeo foi o primeiro aspecto que norteou a seleção de obras do acervo do MAM. O trabalho com palavras-chaves nos permitiu flexibilizar fronteiras entre mídias e, assim, contemplar na curadoria obras de todos os suportes.

Procedimento similar foi realizado em relação às obras de Dan Graham, Bruce Nauman, Nam June Paik, Peter Campus, Daniel Buren e Tony Oursler. Cada uma gerou uma nuvem de palavras-chaves, utilizadas na identificação de relações com as obras dos artistas da coleção brasileira.

As tags também funcionaram como idioma comum, compartilhado entre os sete críticos convidados a escreverem ensaios para o catálogo: Mathilde Roman, John Rajchman, Lisette Lagnado, Nelson Brissac, Cristina Ricupero, Andre Parente e Françoise Parfait.

Finalmente, optamos por inscrever as nuvens nas páginas do catálogo e nas paredes da exposição, convidando os visitantes a estabelecer suas próprias teias de relações entre os conceitos e as obras. Assim, damos visibilidade e projeção ao processo dialógico que orientou a elaboração destes Circuitos Cruzados.

Paula Alzugaray
curadora